Tem alguém aí?


Que corremos acelerado para o colapso das relações, ou propriamente da humanidade, mesmo com todas as tecnologias de comunicação disponíveis não há como duvidar, os exemplos estão por toda a parte. Vai no show daquela banda de rock que você sonhava desde sempre assistir, lá está ela, a banda que marcou sua adolescência: vocalista puxando todas a notas, solo de guitarra, o baterista, o baixo marcando, e não uma, mas várias pessoas com o braço esticado filmando com o celular, quando deveriam estar com os braços livres, dançando passos em descompassos, se deixando flutuar pelo som. Eis a sociedade da fantástica máquina de comunicação, o celular.

E quem lembra, claro, a pergunta está direcionada a maiores de 30 anos, do almoço de domingo com galinha assada, macarronada, maionese, farofa e Coca Cola na casa da avó, da tia, da madrinha, do amigo de papai, da futura sogra? Crianças brincando de pique; meninos soltando pipa, jogando bolinha de gude; meninas brincando de casinha, cuidando das bonecas, até o chamado: Crianças vêm almoçar, os pratos estão na mesa! E era uma luta, pois a brincadeira, a interação entre as crianças era maior do que a fome, mas a comunicação contribuía com a obediência, e logo estavam essas sentadas, almoçando, mas claro, ainda brincando. Quem lembra? Adultos se revezando nas tarefas para produzir o almoço: um saía para comprar os refrigerantes, picolés, claro, nunca sozinho; outro cortando tempero, descascando legumes. Era mais do que almoço, era festa, integração e troca.

Hoje ainda tem almoço aos domingos, mas não têm mais crianças brincando, adultos se revezando, integrando, trocando. Aliás, as pessoas mal comem; os olhos mal enxergam o prato com a comida já fria na mesa, ou na embalagem delivery; a fixação do olhar não está nas cores das saladas, da ornamentação do prato, mas nas mensagens que instantaneamente saem da tela do aparelho colado à palma da mão. A mãe não conversa com o pai; o pai não conversa com o filho; o filho não conversa com a avó, e namorados esquecem de namorar.

Tem alguém aí? Não. Não tem. Embora os corpos estejam ocupando espaço e tempo, mas esses estão perdidos em outra dimensão. Alguns irão mandar uma selfie solitária, depois de ajeitar o cabelo...


Comentários

  1. Uns dirão que é saudosismo, nostalgia ou algo do gênero, mas o certo é que o ser humano está perdendo a humanidade, o calor e a fraternidade nas relações pessoais.

    Sem desmerecer a beleza e a profundidade da mensagem, com perdão da observação, para mim é retratar o óbvio, mas um óbvio que não deveria se repetir e repetir, como têm sido constante nos nossos "novos tempos”.

    Será mesmo nosso o tempo? Será que temos tempo para pensar a respeito? Ainda temos tempo?

    Gostei muito. Vale como reflexão, para dizer o mínimo.

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